segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A Pedra do Reino

A Pedra do Reino, uma vertente do Sebastianismo no Nordeste brasileiro, mostra uma relação direta de causa e efeito entre a persuasão midiática, o seu poder no imaginário, e a sua representação na cultura popular.

O sebastianismo foi um movimento nascido em Portugal, baseado em crenças religiosas, mas com propostas políticas. Os seus seguidores defendiam a ressurreição do Rei Dom Sebastião, morto em batalha na África, no ano de 1578. Essa revolta social apesar de ser de ter tido como base crenças irreais, mostrava a insatisfação de uma população com o governo operante no momento.

Essa manifestação veio reaparecer no Brasil em meados do séc. XIX, tendo adeptos em regiões distintas de todo pais. Foi no Sertão de Pernambuco, entre os anos de 1836 a 1838, na Serra do Catolé, em São José do Belmonte, que o sebastianismo se revelou em um movimento político-religioso com lideres cruéis e ambiciosos.

Duas culturas distintas se fundem em uma só. Aproveitando-se do desespero de uma população diante da falta de recursos para uma vida digna, o seu líder, João Ferreira (chamado de Dom João II) dizia ter visto em sonho o Rei Dom Sebastião mostrando um reino encantado, onde existiam ouro e riqueza em fartura para todos. Porém, para desencantá-lo seus súditos deveriam lavar com o seu próprio sangue duas torres de pedra, existentes até hoje no local. Tal sacrifício era visto pelos adeptos como o caminho para a felicidade. Sem dúvida, uma trágica história de manipulação da fé.

Essa epopéia teve grande repercussão nas manifestações culturais, como com a famosa cavalgada realizada todo ano na cidade de São José do Belmonte, ou em lendas folclóricas como as do “Touro Encantado” e a do “Rei Sebastião”, presentes na mente de muitos que ali residem.

A repercussão não parou por aí, ainda hoje podem ser encontrados com facilidade resíduos dessa história na identidade da população de São José do Belmonte e nas vizinhanças, a exemplo da marca que divulga a cidade ter como símbolo as duas torres de pedra que serviram de palco para essa tragédia.

O reconhecido escritor Ariano Suassuna tomou “A Pedra do Reino” como tema para um dos seus livros. Esse drama ganhou magia, virou um romance conhecido em todo o Brasil e uma minissérie apresentada pela Rede Globo.

Pode ser visto que “A Pedra do Reino”, revolta de base sebastianista ganhou uma grande dimensão, passou a fazer parte da identidade de uma sociedade. Essa perspectiva midiática não pode ser vista como mais uma publicidade, pois passou a fazer parte da cultura nordestina e merece ser estudada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • CALLOU, Ângelo Brás Fernandes, Extensão rural: polissemia e memória, Recife: Bagaço, 2006.
  • CARVALHO, Ernando Alves de. Pedra do Reino: a tragédia que virou festa. Recife: Ed. Do Autor, 2003. 155p.
  • DUBOIS. Jean, (org): Dicionário de Lingüística. São Paulo: Ed. Cultrix, 1993.
  • KOSHIBA, Luiz; PEREIRA, Denise Manzi Frayze, História do Brasil, São Paulo: 7. ed., Ed. Atual, 1997.
  • TAUK SANTOS, Maria Salett.Comunicação rural, velho objeto, nova abordagem. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; FRAU-MEIGS, Divina e TAUK SANTOS, Maria Salett. (orgs.). Comunicação e informação: identidades e fronteiras. São Paulo/Recife: Bagaço, 2000.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Quando A pedra do reino passo na Globo, tentei assistir, mas não estava entendendo nada. Agora passei a compreender melhor. Estou bastante curioso para ver esse evento de perto. Qual a data da cavalgada para o ano de 2008?

Parabéns pela explicação!