quarta-feira, 4 de junho de 2008

O REINO ENCANTADO DE ARIANO SUASSUNA

O referido estudo pretende vislumbrar a influência do escritor Ariano Suassuna na dinâmica sócio-cultural da cidade de São José de Belmonte, situada no Sertão do Estado de Pernambuco, os fatos que envolvem A Pedra do Reino, e o sebastianismo, para que esse fato histórico fosse gradativamente transformado em uma representação folclórica de tradição para o município. A trágica história já foi tema de pesquisa inúmeras vezes, com o passar dos anos sofreu adaptações para o teatro e o cinema, e até já foi tema de desfile de escola de samba. Hoje uma tradição folclórica de difusão nacional, repleta de traços peculiares da cultura nordestina em fusão com a europeia, é enaltecida diante do país. Não se pode, entretanto, esquecer a origem histórica desse movimento. Uma narrativa um tanto quanto ilusória, porém um fato verídico e nefasto, que com o passar do tempo ganhou magia e encanto perante as representações culturais existentes no sertão do Brasil. Como precursora do sebastianismo brasileiro, Belmonte tem uma história digna de ser contada, ouvida, e apreciada. Vem desenvolvendo economicamente o seu potencial e se difundido na mídia mundial. O turismo local cresce a cada dia, com isso a história, a cultura e as tradições sertanejas passam a ser mais valorizadas.

Palavras-chave: São José do Belmote; O Sebastianismo; Pedra do Reino; Ariano Suassuna; Midiatização da tragédia.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O Impacto da Mídia na Cultura Popular: estudo de caso sobre a propagação da imagem do cangaceiro Lampião

RESUMO

O artigo apresentado analisa como o poder de persuasão da mídia pode interferir nas culturas e tradições de uma sociedade. Para tanto, o cangaço e principalmente a figura de Lampião vão ser tomadas como foco de análise e representação dessa influência. A imagem desse cangaceiro foi paulatinamente transformada pela mídia nas décadas de 20 e 30 do século XX, passando de bandido a ser um dos símbolos e ícones do Nordeste brasileiro. O referido trabalho traça um paralelo entre a figura de Lampião e a imagem dessa personagem no “imaginário” popular, a partir dos objetos publicitários divulgados no séc. XXI. A análise textual e imagética dos elementos publicitários virá como comprovação de uma influência direta existente entre a mídia e a constante construção cultural de uma sociedade. Foram adotados como objetos de estudo, discursos publicitários atuais, se materializando, portanto, em objetos, como: mascote, site, blog, propaganda de revista, tais elementos são ícones e símbolos, numa perspectiva semiótica dos nordestinos. É possível constatar nesses objetos publicitários, uma relação direta entre o homem e a sua personagem. Lampião teve a sua imagem devidamente exposta pela mídia durante a vida no cangaço, deixando transparecer a sua identidade cultural, a história de vida, e o seu posicionamento diante da sociedade. Esses conceitos aparecem associados a ele e ao Nordeste de maneira subjetiva na propaganda da atualidade.

Palavras-chave: Lampião; Mídia; Cangaço; Cultura popular; Publicidade.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Uma instituição cultural chamada frevo

História

Inês Calado
Do JC OnLine

Pernambuco orgulha-se de ter uma música e uma dança que nenhuma terra tem, nascida espontaneamente no meio do povo, ou melhor, criada pelo próprio povo. O historiador Valdemar de Oliveira, em seu Frevo, capoeira e passo, vai além. Ele diz que o frevo surgiu na verdade no Recife, nascido no meio do Carnaval, no fim do século 19. Ninguém sabe afirmar quem veio primeiro, a música ou o passo. Na verdade, eles evoluíram juntos, um inspirando o outro, e completaram-se. "O frevo foi invenção dos compositores de música ligeira, feita para o Carnaval, enquanto o passo brotou mesmo do povo, sem regra nem mestre, como por geração espontânea."

A palavra frevo foi publicada pela primeira vez no dia 9 de fevereiro de 1907, no extinto Jornal Pequeno. A nota, uma descoberta do pesquisador Evandro Rabello, citava um ensaio do clube Empalhadores do Feitosa, do bairro do Hipódromo, no Recife. Um das músicas do repertório chamava-se O Frevo. Mas a palavra é uma expressão popular mais antiga e vem de ferver e, por corruptela, frever, sinônimo de festa quente, animada. Dizem que quem lançou o vocábulo foi o escritor Osvaldo de Almeida (pseudônimos Paulo Tadeu e Pierrot).

A marcha pernambucana, como foi inicialmente chamada, nasceu do dobrado entoado pelas bandas militares. O artista multicultural Antônio Carlos Nóbrega afirma que "a decorrência do dobrado para a marcha pernambucana foi uma singularidade nossa. Em nenhum lugar do Brasil a marcha dobrado desaguou no frevo". As bandas das corporações militares acompanhavam as agremiações carnavalescas e os clubes pedestres, que posteriormente foram chamados clubes de rua. À frente das agremiações, estava a figura do brabo, adestrado pelos capoeiras que, ao longo do tempo, foram desenvolvendo com o ritmo das marchas os passos do frevo.

"Para acompanhar o passo do capoeira, o regente da banda começou a acelerar a batida, tornando a música mais 'remexenta'. A caixa do frevo é como se fosse um dobrado com mais molho, com mais firulas", define Antônio Carlos. Embora a execução da capoeira fosse proibida no País, em Pernambuco havia certa vista grossa e, talvez por esse motivo, o passo e a música tenham tomado corpo nos Carnavais do Recife. A diferença, aponta o jornalista Rui Duarte (História Social do Frevo), é que enquanto as ordens foram obedecidas no Rio, que adotou um Carnaval Europeu, no Recife a proibição foi driblada com a fundação de clubes carnavalescos. O fato é que por volta de 1905, a marcha pernambucana, depois chamada de marcha-frevo, evoluiu para o que conhecemos hoje como frevo-de-rua.

Muitas vezes, para acompanhar a música tocada pelas orquestras militares, o povo (mais uma vez o povo) criava letras. Havia um dobrado clássico, que era o dobrado da banha cheirosa (Quem quiser comprar banha cheirosa, vá na casa do Mestre Barbosa, banha de cheiro para o cabelo, banha cheirosa pra vida inteira). As sociedades carnavalescas como Vassourinhas começaram a compor suas marchas de rua com letras. Surgia então o frevo-canção, que possui a mesma estrutura do frevo-de-rua. Compositores como Capiba e Nelson Ferreira criaram belíssimas composições do gênero.

Os blocos surgiram a partir de 1915: Apois fum!, Bloco das Flores, Batutas da Boa Vista (1920), Madeiras do Rosarinho e Inocentes do Rosarinho (ambos em 1926) e Batutas de São José (1932). Alguns deles criados por Felinto e Raul Moraes. Segundo Valdermar de Oliveira, a origem dos blocos se liga à rapaziada que gostava de fazer serenatas e vinha também às ruas em dias de carnaval (sic). Eram criados então os frevos-de-bloco, sem nenhum metal, conduzidos por instrumentos de pau e corda. Os blocos são influenciados - inclusive com sua dança que em nada lembra o passo do frevo - pelos pastoris.

Seja na "ferveção" do frevo-de-rua, seja nas belas composições do frevo-canção ou na nostalgia do frevo-de-bloco, a instituição frevo, como bem definiu Antônio Carlos Nóbrega, ainda tem fôlego para celebrar outros centenários. Foi e continuará sendo uma música exclusivamente pernambucana. Porém essa mistura "que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé" têm fôlego para tomar outros ares e embriagar foliões de todo o mundo.

Tipos de Frevo

Frevo-de-rua
Foi o primeiro gênero que surgiu, identificado apenas como frevo, ritmo que veio dos dobrados das marchas militares que entoavam os carnavais pernambucanos. Nasceu quando saíam no período momesco os clubes pedestres, depois chamados clubes de rua. Diferencia-se dos outros pela ausência completa de letra, pois é feito unicamente para ser dançado.

Ainda pode ser dividido em três tipos: o frevo-abafo ou de encontro, no qual predominam os instrumentos metálicos, principalmente pistões e trombones. Levou esse nome porque geralmente é tocado quando uma troça ou agremiação quer "abafar" qualquer outra que esteja passando na rua. O frevo-coqueiro tem notas altas e agudas. Já o frevo-ventania é o mais suave dos três, tranqüilo, constituído pela introdução de semicolcheias.

São Frevos-de-rua famosos o Vassourinhas de Matias da Rocha e Joana Batista, Último dia de Levino Ferreira, Trinca do 21 de Mexicano, Menino Bom de Eucário Barbosa, Corisco de Lourival Oliveira, Porta-bandeira de Guedes Peixoto, entre outros.

Frevo-canção
É originário do frevo-de-rua, que passou a incorporar melodias à sua música, como a Marcha n° 1 do Vassourinhas, presente no Carnaval dos clubes e nas ruas. O frevo-canção ou marcha-canção tem vários aspectos semelhantes à marchinha carioca. Ambas possuem uma parte introdutória e outra cantada, começando ou acabando com estrebilhos. Mas logo lhe foram acrescentados elementos de frevo, como a marcação do surdo e o tarol.

São frevos-canção famosos: Borboleta não é ave de Nelson Ferreira, Cala a boca menino de Capiba, Hino de Pitombeira de Alex Caldas, Hino de Elefante de Clídio Nigro e Meu vestibular de Gildo Moreno.

Frevo-de-bloco
O frevo-de-bloco surgiu a partir de 1915, com os rapazes que faziam serenatas e, na época carnavalesca, também saíam nas ruas. Acabaram por organizar-se famílias inteiras, pais com suas filhas, maridos com suas esposas, namorados e namoradas, todos pertencentes à classe média recifense.

Sua orquestra é composta de pau e corda: violões, banjos, cavaquinhos. Nas últimas décadas, foram introduzidos clarinetes, seguidos do coral de mulheres. Sua música e dança têm traços fortes dos pastoris.

Os primeiros blocos surgiram com Felinto Moraes e Raul Moraes e outros carnavalescos: Apois fum!, Bloco das Flores, Batutas da Boa Vista (1920), Madeiras do Rosarinho e Inocentes do Rosarinho (ambos em 1926) e Batutas de São José (1932).

Frevos-de-bloco famosos: Valores do Passado de Edgard Moraes, Marcha da Folia de Raul Moraes, Relembrando o Passado de João Santiago, Saudade dos Irmãos Valença, Evocação n° 1 de Nelson Ferreira e Último regresso de Getúlio Cavalcanti.

Artistas

A eles, os aplausos!

Pernambuco comemorou em 2007 cem anos de frevo. Muitos nomes participaram da trajetória desta incrível simbiose de música e dança, indiscutivelmente nascida, cultivada, celebrada em nossos carnavais. O JC OnLine estréia esta seção com alguns depoimentos em vídeo e promete "frever" com outras histórias. Aguardem!

Capiba
Suas composições tornaram-se célebres: Cala a boca menino, Madeira que cupim não rói e Oh! Bela, frevos imortalizados no Carnaval pernambucano, são apenas algumas delas. Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba, nascido em Surubim em 1904, viveu e respirou música desde a infância. Seu primeiro grande sucesso nacional foi a canção Maria Betânia, gravada por Nelson Gonçalves, em 1945. Seus frevos-canção tornaram-se mais conhecidos no final da década de 50, com o lançamento pela gravadora Rozenblit, do LP Capiba 25 Anos de Frevo, interpretados por Claudionor Germano. Capiba faleceu em 1997, mas estima-se que ainda existam centenas de composições inéditas.

Edgard Moraes
Um dos únicos grandes nomes do frevo que nasceu no Recife, em 1904, Edgard Moraes criou, dirigiu e participou de diversos blocos - Pirilampos, Príncipe dos Príncipes, Lobos de Afogados, Um Dia de Carnaval, Camponeses em Folia, Rebeldes Imperial, Corações Futuristas, Turunas de São José, Batutas de São José, Galo Misterioso e Madeira do Rosarinho. Faleceu em 1973, poucas semanas depois do primeiro desfile do Bloco da Saudade, idealizado por ele na marcha Valores do Passado (composta em 1962), uma belíssima homenagem a 24 extintos do Carnaval do Recife.

Nelson Ferreira
Considerado um dos mais importantes compositores da Música Popular Brasileira, Nelson Heráclito Alves Ferreira é natural de Bonito, Agreste do Estado. Nascido em 1902, iniciou sua vasta obra aos 14 anos quando compôs
Vitória. Sua primeira composição gravada foi Borboleta não é ave, na década de 20. Sua marca está no catálogo da extinta Rozenblit, da qual foi, durante anos, diretor artístico. Suas evocações foram notáveis. A primeira delas, intitulada simplesmente Evocação, de 1957, foi sucesso nacional, sendo a música mais tocada no carnaval carioca da época.

Maestro Duda
José Ursicino da Silva, mais conhecido como maestro Duda, nasceu em Goiana, Interior de Pernambuco, em 23 de dezembro de 1935. Aos oito anos começou a estudar música, aos dez já era integrante da banda Saboeira e logo escrevia sua primeira composição, o frevo Furacão. Hoje é um dos maiores regentes, compositores, arranjadores e intrumentista do Estado. Formou várias bandas de frevo, muitas eleitas nos carnavais como as melhores do ano. Num concurso promovido pela Globo, Shell e Associação Brasileira de Produtores de Discos recebeu o prêmio de melhor arranjo de música popular brasileira (1980).

Maestro José Menezes
Natural de Nazaré da Mata, Interior do Estado, José Xavier de Menezes, 83 anos, é bacharel em direito, mas sua maior contribuição não foi na área jurídica. Menezes ficou conhecido mesmo foi como instrumentista, arranjador, compositor e regente de frevos. Sua obra encontra-se preservada em 118 gravações, entre 1949 e 1997, na sua maioria frevos-de-rua, canção e de bloco. No ano 2000, foi o homenageado do Carnaval do Recife, em comemoração aos 50 anos de sua primeira composição de sucesso, o frevo Freio a óleo.

Maestro Nunes

No município de Vicência nasceu José Nunes de Souza, o maestro Nunes, em 1931. Bem cedo, aos 9 anos, já tocava em bandas de cidades do Interior. Em 1950 veio para o Recife, onde integrou diversas bandas, como a Banda Manoel Óleo, União Operária da Macaxeira e Banda do Liceu de Artes e Ofícios. Também participou da Banda do Cassino Americano e da Banda da Cidade do Recife. Nunes aperfeiçoou o dom de criança formando-se em música na Universidade Federal de Pernambuco e regência na Faculdade de Filosofia do Recife. No ano do centenário do frevo, será o grande homenageado do Carnaval do Recife.

Maestro Spok
O "caçula" da turma de grandes maestros de frevo pernambucanos nasceu em Igarassu, mas logo cedo mudou-se para Abreu e Lima, onde teve o primeiro contato com a música através do professor Policarpo Lira Filho (Maninho). Inaldo Cavalcante de Albuquerque mudou-se para o Recife na década de 80 e passou a trabalhar com maestros como Ademir Araújo, Clóvis Pereira e Guedes Peixoto. O maestro Spok, hoje com 36 anos,incorporou com grande dimensão o improviso, adicionando às composições originais de frevo novos arranjos.

Antônio Carlos Nóbrega
Quem conhece Antônio Carlos Nóbrega no palco não imagina que ele tem 54 anos, muitos deles dedicados à divulgação da cultura pernambucana. Nóbrega nasceu no Recife e começou a se "musicalizar" aos 10 anos de idade, quando entrou na Escola de Belas Artes. Conheceu o frevo, como também outras manifestações populares, a partir de seu encontro com Ariano Suassuna no Quinteto Armorial. Mas o encanto com o frevo, gênero que chama de instituição cultural, aconteceu através de sua dança. Há quatro anos, Nóbrega realiza o Arrastão do Frevo no dia 9 de fevereiro. Em 2006 presenteou o público com o espetáculo Nove de Frevereiro, todo dedicado ao gênero musical.

Claudionor Germano.
O cantor Claudionor Germano nasceu no Recife e foi escolhido pelos compositores Capiba e Nelson Ferreira como principal intérprete de suas músicas. Com vários discos gravados, é hoje o mais respeitado cantor de frevo do Estado. Em 2006 foi o homenageado, ao lado de Ariano Suassuna, do Carnaval do Recife.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Por um Brasil melhor...

Os meios de comunicação fazem parte de uma evolução da humanidade. Foram criados para propiciar mais velocidade na difusão de informações ao maior numero possível de pessoas. Esses recursos deveriam ser utilizados para o bem, pois têm como função propagar informações, e conscientizar a população de tudo que está acontecendo, ou seja, “desalienar”.

Para tanto vamos abordar dois pontos vitais nessa problemática, um deles é a falta de escrúpulos e de ética da política brasileira, e o outro é o analfabetismo funcional que vem se alastrando pelo pais, ou seja, a falta da capacidade na interpretação de textos e situações. O jornal Zero Hora traz pesquisa significativa a esse respeito:

Apenas 25% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são capazes de ler, entender o que está escrito e escrever corretamente, enquanto 8% são analfabetos, de acordo com pesquisa de uma organização não-governamental ligada ao Ibope.

Outros dois grupos formam os chamados "analfabetos funcionais": embora saibam ler e escrever não têm como usar esse conhecimento para entender mais de uma frase. Eles constituem 67% dos brasileiros (Zero Hora, 09/09/2003).

Dados como esses só vêm a comprovar que nos últimos trinta anos o ensino das escolas brasileiras não tiveram melhora alguma em termo de conteúdo. O governo acredita, ou melhor, finge acreditar, que basta investir na forma, ou seja, sala de aula, merenda, computadores, Internet, entre outros. Não estou dizendo que todas essas melhorias não sejam importantes, são, mas só elas não bastam.

Partindo da total ou parcial falta de compreensão na leitura das informações e na análise dos textos divulgados, pode ser percebido um segundo problema. É que com a evolução dos meios de comunicação e com a abrangência dos mesmos, ficou mais fácil para os alunos, estudar ou “copiar”, muitas vezes nem isso, basta imprimir. Isso faz com que as pessoas passem a decorar, não a pensar e a compreender, e logo esquecem de tudo ou de quase tudo.

As más línguas costumam dizer que os brasileiros têm memória curta, mas será que a culpa é da memória ou da forma como as pessoas assimilam as informações recebidas? Segundo Luciano Pires “É característica do brasileiro aplicar pouco ou nenhum tempo na reflexão sobre as informações de que dispõe. Estudar, comparar, discutir, investir tempo na tentativa de projetar cenários futuros... não, isso não é coisa de brasileiro. E, com tanta informação disponível, Deus me livre! Dói!” (PIRES, 2003).

Como foi visto a mídia se torna um alvo certo, é muito mais fácil pôr nos meios de comunicação a responsabilidade pela preguiça cultural que se alastra pelo Brasil. Em um mundo cada vez mais globalizado a mídia faz o seu papel na sociedade, o de tornar o mundo cada vez “menor”. Mas, ifelizmente não só com esse intuito que ela está sendo utilizada, as informações são manipuladas de acordo com o interesse da política pública. Um bom exemplo da distorção da função original de algo, é a bomba atômica, foi criada para salvar vidas, mas foi utilizada para matar, destruir e ameaçar.

A culpa não é dos meios de comunicação, mas sim dos fins para que estão sendo utilizados e da forma que estão sendo editados. Uma matéria bem escrita não conta só o lado ruim, nem só o que aconteceu. Ela conta o porquê, onde, como, quem, quando, quais as conseqüências. Informa o leitor, o deixa aberto para discussões futuras sobre o assunto abordado.

A mudança no sistema educacional é lenta, mas cabe a sociedade questionar e cobrar posições do governo, assim lutando na construção de um pais melhor. Mas, não basta só isso, a população precisa está atenta diante das informações recebidas. Não se pode acreditar em tudo o que é dito. Deve-se ter como obrigação buscar mais de uma fonte sobre o que está sendo abordado. E, antes de tudo, deve-se ler, ler muito, sobre assuntos variados, pois só assim o senso critico é formado.

Com isso o poder de persuasão da mídia diminui e a população pode modificar ou reescrever a sua própria história, sobre tudo passar a conhecer e exercitar os seus direitos de cidadão.


Referências

PIRES, Luciano; Brasileiros Pocotó: reflexão sobre a mediocridade que assola o Brasil; São Paulo; Ed. Frente e Verso; 2003.


Site

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A Pedra do Reino

A Pedra do Reino, uma vertente do Sebastianismo no Nordeste brasileiro, mostra uma relação direta de causa e efeito entre a persuasão midiática, o seu poder no imaginário, e a sua representação na cultura popular.

O sebastianismo foi um movimento nascido em Portugal, baseado em crenças religiosas, mas com propostas políticas. Os seus seguidores defendiam a ressurreição do Rei Dom Sebastião, morto em batalha na África, no ano de 1578. Essa revolta social apesar de ser de ter tido como base crenças irreais, mostrava a insatisfação de uma população com o governo operante no momento.

Essa manifestação veio reaparecer no Brasil em meados do séc. XIX, tendo adeptos em regiões distintas de todo pais. Foi no Sertão de Pernambuco, entre os anos de 1836 a 1838, na Serra do Catolé, em São José do Belmonte, que o sebastianismo se revelou em um movimento político-religioso com lideres cruéis e ambiciosos.

Duas culturas distintas se fundem em uma só. Aproveitando-se do desespero de uma população diante da falta de recursos para uma vida digna, o seu líder, João Ferreira (chamado de Dom João II) dizia ter visto em sonho o Rei Dom Sebastião mostrando um reino encantado, onde existiam ouro e riqueza em fartura para todos. Porém, para desencantá-lo seus súditos deveriam lavar com o seu próprio sangue duas torres de pedra, existentes até hoje no local. Tal sacrifício era visto pelos adeptos como o caminho para a felicidade. Sem dúvida, uma trágica história de manipulação da fé.

Essa epopéia teve grande repercussão nas manifestações culturais, como com a famosa cavalgada realizada todo ano na cidade de São José do Belmonte, ou em lendas folclóricas como as do “Touro Encantado” e a do “Rei Sebastião”, presentes na mente de muitos que ali residem.

A repercussão não parou por aí, ainda hoje podem ser encontrados com facilidade resíduos dessa história na identidade da população de São José do Belmonte e nas vizinhanças, a exemplo da marca que divulga a cidade ter como símbolo as duas torres de pedra que serviram de palco para essa tragédia.

O reconhecido escritor Ariano Suassuna tomou “A Pedra do Reino” como tema para um dos seus livros. Esse drama ganhou magia, virou um romance conhecido em todo o Brasil e uma minissérie apresentada pela Rede Globo.

Pode ser visto que “A Pedra do Reino”, revolta de base sebastianista ganhou uma grande dimensão, passou a fazer parte da identidade de uma sociedade. Essa perspectiva midiática não pode ser vista como mais uma publicidade, pois passou a fazer parte da cultura nordestina e merece ser estudada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • CALLOU, Ângelo Brás Fernandes, Extensão rural: polissemia e memória, Recife: Bagaço, 2006.
  • CARVALHO, Ernando Alves de. Pedra do Reino: a tragédia que virou festa. Recife: Ed. Do Autor, 2003. 155p.
  • DUBOIS. Jean, (org): Dicionário de Lingüística. São Paulo: Ed. Cultrix, 1993.
  • KOSHIBA, Luiz; PEREIRA, Denise Manzi Frayze, História do Brasil, São Paulo: 7. ed., Ed. Atual, 1997.
  • TAUK SANTOS, Maria Salett.Comunicação rural, velho objeto, nova abordagem. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; FRAU-MEIGS, Divina e TAUK SANTOS, Maria Salett. (orgs.). Comunicação e informação: identidades e fronteiras. São Paulo/Recife: Bagaço, 2000.

SITES:


Lampião, a marca que vende o Nordeste

RESUMO: O livro apresentado analisa como o poder de persuasão da mídia pode interferir nas culturas e tradições de uma sociedade. Para tanto, o cangaço e principalmente a figura de Lampião vão ser tomadas como foco de análise e representação dessa influência. A imagem desse cangaceiro foi paulatinamente transformada pela mídia nas décadas de 20 e 30 do século XX, passando de bandido a ser um dos símbolos e ícones do Nordeste brasileiro. O referido trabalho traça um paralelo entre a figura de Lampião e a imagem dessa personagem no “imaginário” popular, a partir dos objetos publicitários divulgados no séc. XXI. A análise textual e imagética dos elementos publicitários virá como comprovação de uma influência direta existente entre a mídia e a constante construção cultural de uma sociedade. Foram adotados como objetos de estudo, discursos publicitários atuais, se materializando, portanto, em objetos, como: mascote, site, blog, propaganda de revista, tais elementos são ícones e símbolos, numa perspectiva semiótica dos nordestinos. É possível constatar nesses objetos publicitários, uma relação direta entre o homem e a sua personagem. Lampião teve a sua imagem devidamente exposta pela mídia durante a sua vida no cangaço, deixando transparecer a sua identidade cultural, a história de vida, e o seu posicionamento diante da sociedade. Esses conceitos aparecem associados a ele e ao Nordeste de maneira subjetiva na propaganda da atualidade.

O livro já está disponível e pode ser encontrado nas livrarias: Saraiva, Cultura, Imperatriz, e Dom Bosco.

Seguem Dados:


Preço:

R$ 22,00

Págs.:

105

Formato:

14 x 21

ISBN

9788590752400